A cirurgia robótica é uma técnica que vem revolucionando o tratamento de diversas doenças. É considerada um método seguro, eficiente e com resultados vantajosos para os pacientes pelo fato de ser minimamente invasiva e de alta precisão. Por ser uma tendência e estar em expansão para diversas especialidades, é crescente o interesse de profissionais pela especialização nessa área.
No Brasil, o crescimento de plataformas robóticas foi expressivo nos últimos anos: saltou mais de 40% de 2019 a 2022 - eram 70 robôs espalhados pelo território há três anos e hoje são cerca de 100. Isso faz do país um dos grandes protagonistas mundiais em cirurgia robótica, o que tem atraído até mesmo médicos de outras partes do mundo. Segundo o diretor de cirurgia do Hospital Israelita Albert Einstein, Nam Jin Kim, "até cirurgiões norte-americanos têm buscado a expertise brasileira, é como se o eixo tivesse mudado".
Embora as primeiras utilizações de robô cirúrgico datem de meados da década de 80, nos Estados Unidos, e em 2008 no Brasil, a cirurgia robótica era pouco acessível para quem desejava se especializar na técnica. "Era preciso viajar até os EUA para aprender a operar a máquina e sem a devida prática não fazia sentido adquirir a tecnologia", lembra Kim.
Alguns anos depois, a América Latina contava com um ponto de treinamento em Bogotá, na Colômbia, focado em especialidades abdominais. E, em 2019, a Intuitive, fabricante de robôs cirúrgicos, cedeu uma plataforma para treinamento e designou o Einstein como certificador oficial em terras brasileiras.
"Passamos a oferecer a certificação oficial para operar a ferramenta, mas o treinamento era muito limitado. Como sempre tivemos alta exigência de treinamento e segurança, aprimoramos essas informações e conhecimentos para criar uma plataforma de ensino voltada para essa prática", lembra Kim.
Tendência mundial
Os primeiros procedimentos robóticos tinham maior ênfase na urologia. Mas, hoje, são realizadas cirurgias também nas áreas de ginecologia, cirurgia geral e do aparelho digestivo, coloproctologia, cirurgia torácica, cirurgia de cabeça e pescoço, cirurgia cardíaca, cirurgia pediátrica e cirurgia oncológica.
Em um futuro breve, de acordo com Nam Jin Kim, a cirurgia robótica deve passar a abranger outras especialidades. "A ortopedia deve ser a próxima a ser contemplada. Não são todos os procedimentos que se beneficiam dessa técnica, mas a tendência é que as cirurgias mais complexas possam contar com essa tecnologia", afirma.
Além dos benefícios esperados aos pacientes, como menor sangramento, tempo de internação, menor risco de infecção e redução da dor no pós-operatório, a cirurgia robótica impacta também a qualidade de vida e trabalho do cirurgião. Segundo Kim, a técnica amplifica as capacidades do médico, seja por habilidade cognitiva, visão, tridimensionalidade, destreza e movimentos finos, correção de tremor e até melhores tomadas de decisão.
É importante ressaltar que o robô nunca age sozinho e o profissional médico precisa ter uma habilitação específica para poder realizar procedimentos com essa técnica. "É claro que, para que tudo isso dê certo, é preciso ensino de qualidade, formação e treinamento médico e da equipe multidisciplinar", ressalta.
Especialização em cirurgia robótica
A especialização em cirurgia robótica, oferecida pelo Einstein desde 2020, é uma pós-graduação lato sensu certificada pelo Ministério da Educação (MEC). Tem um ano de duração e conteúdo multidisciplinar, que abrange desde a teoria da tecnologia e conceitos básicos do robô, até o acompanhamento de cirurgias robóticas e, finalmente, a participação ativa nesses procedimentos.
O primeiro curso lançado foi o de cirurgia robótica na área de urologia. Logo depois, foram lançados mais quatro títulos: cirurgia torácica, cabeça e pescoço, ginecológica e coloproctológica. "Já temos planos de expansão. E a meta é levar esse conhecimento também para a graduação. É claro que nenhum aluno vai sair operando, mas, hoje, os residentes já terminam suas práticas aptos a realizar cirurgias robóticas. É uma tendência natural", afirma Kim.
Dos aproximadamente 100 robôs que o Brasil possui, o Einstein é detentor de 10%, sendo três destinados exclusivamente para treinamento. Mais de 500 alunos já cursaram ou ainda estão cursando a pós-graduação em cirurgia robótica e, desses alunos, 24 são estrangeiros, vindos de 12 países diferentes.
Interesse estrangeiro
Olga Farah, diretora de ensino superior do Einstein, lembra que "abrimos a oportunidade de matrículas de alunos estrangeiros e, já na primeira turma, tivemos 23 alunos de toda a América Latina e um aluno da Índia, além dos nossos alunos brasileiros".
Para se certificar que os participantes tenham uma experiência completa, a instituição oferece o material do curso inteiramente traduzido, além de tradução simultânea para acompanhamento das aulas. Olga detalha que "a primeira parte, teórica, é feita de forma online e ao vivo. Na parte prática, os alunos precisam passar um tempo no Brasil para poder finalizar o treinamento".
Como o campo da cirurgia robótica está em evidência mundial, o interesse pela especialização se expandiu para outros países: ao longo das turmas, "pessoas de países como Singapura, México, Chile, Colômbia e Argentina já passaram por aqui", diz Olga.
Um robô controlado por um cirurgião
A técnica de cirurgia robótica funciona da seguinte forma: o cirurgião fica sentado em um console e comanda o robô por meio de joysticks, que transmitem os movimentos às pinças dos braços robóticos. E a equipe tem acesso a uma torre de visão, com um monitor para acompanhar o procedimento,
Nam Jin Kim explica que a técnica é uma evolução da laparoscopia, cirurgia que consiste em uma pequena incisão feita na região a ser tratada - ali passa um fino tubo de fibra ótica com uma pequena câmera, por meio da qual é possível visualizar os órgãos e fazer as intervenções necessárias.
Mas enquanto a laparoscopia oferece uma visão 2D, o robô trabalha em 3D e em alta resolução, ampliando a visualização dos procedimentos. Hoje, a cirurgia robótica conta com instrumentos pequenos, de 8mm, capazes de chegar a locais mais difíceis, com amplitude de movimentos e rotação de 360º.
"O robô também corrige o tremor das mãos, por exemplo, e esse tipo de intervenção faz com que a cirurgia seja mais rápida, que o paciente sangre menos e se recupere em menor tempo. Os efeitos de cura são semelhantes ao de uma cirurgia tradicional - que envolve um corte maior e abertura da área a ser operada -, mas com muitos benefícios", conta.